Sem Ghosn, Nissan perdeu 40% do valor e tem futuro incerto

No período posterior à 2ª Guerra Mundial, as montadoras ajudaram a reconstruir o Japão. Tornaram-se símbolos do milagre econômico japonês. Mas esse orgulho nacional, que perdura até hoje, pode ser um obstáculo para a sobrevivência das próprias empresas, especialmente a Nissan, que se vê diante do maior desafio de sua história: neutralizar o escândalo envolvendo seu ex-CEO, Carlos Ghosn, e ao mesmo tempo estancar a queda das vendas e da rentabilidade. Em um cenário de consolidação do setor, o isolamento pode ser perigoso – e até fatal.

A Nissan vem enfrentando um cenário nebuloso nos últimos anos, com recuo das vendas – especialmente no Japão – e os revezes da investigação contra Ghosn. Ele foi preso pela primeira vez em 19 de novembro de 2018, sob acusação de sonegação fiscal. À época, ele foi demitido prontamente, mas ainda permaneceu por um tempo como presidente da Renault, o que já causou desconforto entre as duas empresas, que têm uma aliança há 20 anos.

Ghosn é considerado por muitos peça-chave na recuperação da Nissan, que no fim dos anos 90 quase chegou à falência. Carregou o título de “herói nacional” no Japão. No entanto, seus feitos não impediram a sua prisão, o que pesou na imagem e nos negócios da aliança automotiva. Ainda mais agora, com fortes acusações feitas por Ghosn, incluindo a de que a Nissan estaria por trás de sua prisão.

A queda dos números da montadora japonesa se acentuou principalmente no ano passado. Segundo levantamento da consultoria Jato Dynamics, os emplacamentos globais da marca despencaram quase 50% de 2014 para cá, com a maior parte da queda registrada em 2019.

Neste cenário, a empresa anunciou, em julho do ano passado, um corte global de 12.500 postos de trabalho, em meio a uma queda brutal dos lucros – 99% no trimestre encerrado um mês antes. Em setembro, a companhia revisou seu guidance, cortando em 35% a projeção de receita operacional para 2019.

Além da conjuntura atual, a Nissan terá que enfrentar os desafios de médio e longo prazo da indústria automotiva, que passa por uma verdadeira revolução. As empresas precisam encontrar formas de desenvolver o veículo do futuro – elétrico, autônomo e conectado – levando em consideração que esse custo é imenso.