Investimentos em infraestrutura apoiam algum ânimo para 2017
Investidores estão cautelosos porque cenário político trava reformas, inércia da inflação surpreende e volume de exportações não reage à baixa do mercado interno.
O ano de 2017 pode enfrentar dificuldades para a retomada, ainda que tímida, da economia. O caminho pode ter solavancos porque as reformas propostas pelo governo transitam entre o Palácio do Planalto e o Congresso em um ambiente de sucessivas denúncias e crises políticas. Para especialistas, alguns setores, impulsionados por programas de incentivo à infraestrutura, recuperação de commodities e leilões de áreas de petróleo e gás, devem levar vantagem neste lento processo de recuperação da economia.
Por mais antagônico que possa parecer, também podem surgir oportunidades por conta do alto endividamento na administração pública. Afinal, prefeituras, estados e União terão de abrir mão de parte de seus ativos para fazer caixa e pagar dívidas, acelerando concessões, privatizações e Parcerias Público-Privadas (PPP).
Este cenário de oportunidades muito pontuais foi identificado em uma pesquisa da Deloitte junto a 746 empresas com faturamento esperado de R$ 1,739 trilhão neste ano. Cerca de 84% dos entrevistados disseram que vão manter ou contratar. “A economia mergulhou nos últimos dois anos. Alguma recuperação se tornou necessária para a manutenção da própria atividade econômica”, explica Othon Almeida, sócio da Delloite. Mas o executivo lembra que sem as reformas econômicas e o ajuste fiscal o cenário apontado pela pesquisa pode ser mais conservador. “O ambiente ainda está frágil. Os investidores precisam ver as coisas acontecerem”, diz.
Os investimentos em infraestrutura devem ter destaque na recuperação. O Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), pilotado por Moreira Franco (PMDB), alterou por meio do Projeto Crescer as regras de concessão com o objetivo de atrair novos investimentos em projetos de infraestrutura e de desestatização. Entre os negócios que devem passar para a iniciativa privada estão os aeroportos de Salvador e de Porto Alegre.
Com os investimentos, analisa Almeida, a tendência é que a geração de empregos seja destravada aos poucos, o que pode levar a uma melhora nos setores de bens de consumo e de alimentos. Tudo isso, é claro, depende em especial da redução da taxa de juros e da oferta de crédito, tanto para o consumidor quanto para as empresas.
Para o setor da construção civil, a retomada deve ocorrer pelos projetos de infraestrutura ligados a concessões. “Não vamos decolar no curto prazo, mas existe a perspectiva de o setor experimentar crescimento tímido em 2017. Ainda falta clareza sobre a melhora da economia real”, analisa o vice-presidente administrativo da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Cleber Valadão.
Para um setor que viu cerca de 420 mil vagas serem fechadas em 2016, falar em crescimento é razão para comemorar. Mas Valadão acredita que esse otimismo só deva se confirmar no segundo semestre. Não por falta de recursos, mas pelas incertezas políticas. “O que emperra o setor privado neste momento é a falta de segurança para investir. Todos estão esperando passar esta fase”, diz Valadão.
Apesar do otimismo, ainda que conservador, Fernando Sampaio, diretor da LCA Consultores, alerta para os riscos. “Vivemos um refluxo de incertezas políticas que poderão ameaçar a retomada da economia. Os eventos mais recentes vêm desgastando figuras importantes do Executivo e do Legislativo. Isso pode causar uma frustração, assim como a que se viu no governo de Dilma Rousseff”, analisa. Por outro lado, pondera o economista, o Brasil tem a oferecer dois estímulos fortes para ajudar no processo de recuperação: ativos baratos e juros muito baixos no mercado internacional. “Mas, enquanto a poeira não baixar, as decisões de investimento não serão tomadas. Já o consumidor tem mais dificuldade em associar os riscos políticos à vida dele. O importante para ele é saber se vai ter emprego”, diz.
A crise da União, estados e municípios deverá gerar negócios e ajudar a empurrar o PIB para cima. Sem condições de tomar recursos, a saída deverá ser buscar parceiros por meio de contratos de concessão, PPPs e privatizações. “Já há sondagens por parte de alguns estados sobre os ativos que não devem ser mais estratégicos. Essas operações devem se concentrar principalmente em saneamento, transporte e saúde”, afirma André Fontes, gerente de fusões e aquisições da EY.
Nas eleições municipais, candidatos como João Doria Jr. (PSDB) trataram do tema. O agora prefeito de São Paulo prometeu repassar a administração do Parque do Ibirapuera, do Autódromo de Interlagos e do centro de eventos Anhembi para a iniciativa privada. Prefeito eleito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Junior (PSDB) não terá a mesma sorte. Ele assumiu uma cidade quebrada. Oficialmente, José Fortunati (PDT), seu antecessor, disse ter deixado uma dívida de R$ 350 milhões, mas o valor deve ser maior – inclui de salários atrasados a pagamentos pendentes de fornecedores. Houve uma manobra de antecipação do IPTU que só seria pago em 2017, na gestão do tucano, para fazer caixa ainda em 2016 e pagar o 13º salário. Assim que tomou posse, Marchezan avisou que vai rever o calendário de quitação de contratos e que o funcionalismo poderá sofrer com novos atrasos no contracheque.
“A situação é gravíssima. Vamos tentar fazer um desenho a partir do que encontrarmos, porque privatizar não é nosso programa de governo. Mas o que não tivermos condições de administrar terá de ser repassado ao setor privado por absoluta falta de recursos. Temos muitas formas de atrair o interesse privado, como o polo universitário e tecnológico, além de oportunidades ligadas ao turismo de negócios e à gestão de equipamentos públicos, como a orla do rio Guaíba”, explica o tucano.
Já no setor de petróleo e gás, dominado por grandes grupos internacionais, e no de construção, não há falta de recursos para projetos, diz Antônio Guimarães, secretário executivo do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustível (IBP). A atividade vem enfrentado problemas com a queda do preço do barril de petróleo, mas, ainda assim, os planos são para aumentar a aposta no Brasil. “Não faltam recursos. Para as empresas, o que mais preocupa é saber se as regras serão estáveis. Quem compra um bloco hoje vai produzir petróleo daqui a dez anos e ficará naquele projeto por 30, 40 anos”.
Recentemente, André Araújo, presidente da anglo-holandesa Shell do Brasil, declarou que a petroleira prevê investimentos de US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos. “Temos apetite para mais”, diz o executivo. Quem também aumentou as fichas de olho no fim da operação única do pré-sal pela Petrobras, sancionada recentemente pelo presidente Michel Temer (PMDB), e na perspectiva de novas áreas de exploração em 2017 foi a norueguesa Statoil no Brasil.
Novos leilões, que poderão gerar aos cofres do governo entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, estão previstos para o segundo semestre de 2017 e devem incluir tanto áreas do pré-sal quanto blocos comuns. Além desse estímulo importante, as empresas devem aproveitar outras mudanças nas regras atuais, como a redução do conteúdo nacional em seus projetos.
A economia brasileira poderá contar ainda com reforço de investimento por meio de operações de fusões e aquisições, avalia Rogério Gollo, sócio da PwC, especialmente em setor como TI e em empresas de meios de pagamento, ainda dominado por empresas de pequeno porte, além do varejo, que vem apresentando taxas expressivas de crescimento. “Os estrangeiros já estão começando a conversar, mas isso só deve avançar com a redução das incertezas sobre a economia”, explica. Segundo o executivo, 2017 deve chegar próximo ao patamar de 2011 em número de fusões e aquisições, depois de cinco anos de retração.
Se o setor produtivo espera que a fila ande neste ano, o mesmo otimismo não é compartilhado por parte dos economistas. Para Fabio Silveira, sócio da MacroSector Consultores, o ponto de partida terá de ser a queda da Selic. “Sem a redução drástica de juros e uma política agressiva de crédito, vamos ter outro ano de recessão. Os fundamentos econômicos são muito ruins. Dificilmente o governo vai adotar uma política mais estruturada de longo prazo, contemplando o plano de ajuste fiscal combinado com a redução de juros. Sem isso as pessoas e as empresas não vão voltar a ter liquidez, apenas o de sempre.”
Silveira não acredita nem sequer no investimento em aumento de produtividade porque, segundo o executivo, isso não se faz de uma hora para outra, mas durante décadas. E neste momento em que parte da produção está ociosa não haveria razão para apostar em ganho de produtividade. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que a utilização da capacidade instalada no País não dá sinais de reação.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, também trabalha com a perspectiva de cautela para este ano. Segundo ele, o dinamismo econômico só vai destravar investimentos se houver demanda. “E se o empresário decidir investir, vai pegar dinheiro onde? O BNDES não vai colocar dinheiro em projetos por causa do problema fiscal.”
Para Luiz Fernando Castelli, economista da GO Associados, sem uma política monetária mais frouxa não será possível retomar o crescimento. “O problema é que a instabilidade política deverá fazer o Banco Central segurar os juros. O resultado é que a economia não vai andar.”
FONTE: Grandes Construções